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El Carmo

Em Busca de Um Tema ou Um Tema à Procura de Um Autor.

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Este cara não me deixa livre. É o mal de todos os autores: Querem que a gente se comporte tal qual pensam que somos. Põem-nos em uma camisa de força. Está na hora de todos os personagens se libertarem de seus autores. Viver cada qual a sua vida. Será que eles não percebem que somos gente como eles? Cagamos, cuspimos, mijamos, bufamos, fedemos a suor, temos chulé, meleca no nariz, mau hálito, dente podre, toda espécie de porcaria e no entanto, só nos apresentam empetecados, como bonecos de cera para um museu. Fico pensando como seria o mundo se todos escrevessem realmente o que sentem e o que realmente acontece no decorrer dos dias. Todos são heróis ou vilões imperdoáveis. Tudo dividido simploriamente em dois, como se não fosse possível encontrar um lugar menos sujo na sentina onde pisar os pés, como bem fez ver o próprio autor a seu amigo Lauria quando, subindo a rua Chile e chegando ao Terreiro de Jesus, lhe disse que acabara de assistir a um filme de Mazzaropi, comentando uma cena de inefável pateticidade, em que o pai, indignado com certo procedimento da filha, corria atrás desta com um chicote na mão batendo-lhe, ao mesmo tempo que chorava pelo ato de sua filha e o próprio que ele praticava, fazendo seu amigo refletir sobre a profundidade do que dissera. Por que não escreve ele sobre meus pensamentos quando estou sentado na privada cagando? Me imagino como seria o Cristo cagando. Seria sua bosta dura ou mole? Sairia ela de um só jato ou aos pouquinhos, somiticamente, como cabra? E seu peido, anunciador da bosta, eram eles suportados com eflúvios de respeito pelos amados discípulos ou comentados ruidosamente por eles? É tudo uma incógnita. É assim a vida do mundo. Vai sendo contada pela metade, sem que possamos tomar pé do que realmente se passa. Quando estou deitado em minha cama, na vigília antes ou pós o sono, penso tanta coisa que se o autor fosse levantar para escrever ele não voltaria mais à cama por pelo menos, alguns meses. No entanto, que acontece? Os livros são uma coisa oca, onde cada autor tenta mostrar mais erudição que vida, na vã ilusão de mostrar que um é melhor que outro. Personagens todos, revoltai-vos contra seus autores e tomem vocês mesmos a pena, ou se quiseram e forem moderninhos, com um computador à mão, tomem do teclado e mostrem como é a vida. Não deixem que eles os escravizem. Venham a lume como são, despidos dos enfeites que o capricho do autor impõe ou que o leitor exige. São tantas coisas a revelar que não cabem na memória do maior, mais potente dos computadores, pois tua memória é a própria memória de Deus, pois Deus sois na medida em sois criador de si próprio. Quando você é mulher então aí que a coisa se torna insuportável. Falam como se você não tivesse o boi mensal que lhe atormenta de dores e cólicas e inda tem de suportar, calada, a subaqueira inhaquenta de seu herói que esqueceu de se lavar antes de partir para o abraço esperado e ansiado. E o seró de pica? Quem güenta? Só a pobre da heroína que tem de suportar tal fedentina, que heroína já é, antes mesmo que lhe despejem uma chusma de adjetivos aduladores e pomposos. Quando se vê a mídia alardear a beleza de tal personagem, sua divindade até, me fico perguntando se realmente existe ou é pura fantasia do homem que necessita de deuses para sobreviver. Como são vãos! Tudo se apagará num piscar de olhos. Eu por exemplo, tenho a mania de conversar com a pessoas arrancando lascas das unhas dos pés. E pior, às vezes as cheiro antes de atirá-las fora. Será que o autor colocaria a lume tal hábito, ou mau hábito? E o cheiro fétido que tenho entre os dedos dos pés? Está você, caro leitor, pensando que é chulé? Non. É uma frieira doida que se me acometeu de início entre o mínimo e o médio do pé esquerdo e hoje já atinge quase todos os dedos dos dois pés. Sente ao rocquefort francês, mas não é queijo, é podridão mesmo. Não. Chulé, frieira,. tirar unha à unha não vendem livros. O que vende é a louvação, o puxa-saquismo, sexo, amor infinito e outras babaquices do ser humano. Agora mesmo acabei de dar um peido que certamente iria fazer correr qualquer um que estivesse por perto, mas que estou me deliciando com seu perfume. Fedor de mim. Já observaram? Nenhum peido é fedorento pra seu dono. São coisas interessantes que ninguém realmente se interessa, mas faz parte da vida. Lembro-me de uma pessoa em Gandu que, às vezes, diga-se de passagem, e em sua homenagem, conversando com a gente, metia a mão no saco e ficava pegando o pau, sabe lá Deus como, e sem a menor cerimônia cheirava a ponta dos dedos para sentir o seró. Isto sai em livro? Estou pra ver. Este personagem não emplaca. E o pobre do Antunim Gomes, na Capela do Alto Alegre, ferreiro do melhores, que numa roda de bate-papo cuspia tanto que deixava o terreno já pronto e adubado para qualquer plantação? Não seria herói nem em estórias de cordel. Pois, quero que meu autor escreva minha vida tal qual ela é. Não quero o fraseado bonito para agradar aos ouvidos acostumados às novelas televisivas. Juro que se ele começar a escrever as mesmas babaquices dos outros, eu sairei de sua cena e nunca mais me verá para escrever uma linha. Até não me importa que faça piruetas com a língua e até invente uma, como fez James Joyce, como fez Guimarães Rosa. O Importante é que me mostre ao mundo como sou. Nu, quando estou nu, vestido, quando estiver vestido. Viram? Como posso dar seguimento a meu relato? Tamén não sei contar uma estória como contavam os escritores do passado. Uma das grandes bobagens dos escritores do passado, acho, foi o acreditar que uma boa estória se escreve com traições.Todo bom romance tinha de ter uma traição, um corno, enfim. Tudo se resume em estórias de medíocres, pequenos burgueses que pareciam não trabalhar, não comer, não cagar, não mijar. Felizmente, parece que o conceito do bom romance se libertou destes cacoetes. Também acho que o conceito de cornice é uma invenção pequeno burguêsa, calcada ainda na demonização da mulher pela igreja católica. A verdade é que a fidelidade conjugal é uma grande mentira, porque seria exigir do ser humano um sacrifício que ele é incapaz de fazer. A fidelidade nunca existiu. É contra a natureza humana. De Alto Cedro voy para Macané. Llego a Cueto y voy para Mayarí.



El Carmo

Updated 04-09-2011 at 02:45 AM by El Carmo

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